O Âmbito Cultural do El Corte Inglés tem o prazer de convidar para o Ciclo de Conferências: “Duelos Assíncronos” por José Reis Santos, a realizar-se nos dias 15 & 22 de Março e 19 & 26 de Abril, pelas 18h30, na Sala de Âmbito Cultural, piso 6 do El Corte Inglés de Lisboa.

1.º Diálogo entre Afonso Costa e Sidónio Pais sobre a I República

15 Março 18h 30 – Fernando Rosas

22 Março 18h 30 – Jaime Nogueira Pinto

 

Sinopse

O nosso primeiro duelo será sobre a I República, apresentada sob uma leitura contextualizada do que foram os arcos de intervenção de Afonso Costa e Sidónio Pais, peças-chave desses 16 anos bastamente memorializados (1910 – 1926). Os protagonistas escolhidos são ambos fundadores de dois regimes políticos portugueses (República Parlamentar e República Presidencialista), ambos pedagogos publico-sociais com intenções reformistas no que respeita à educação cívica do povo português. Afonso Costa durante a Monarquia Constitucional a advogar (e fundar) uma I República laica e parlamentar; e Sidónio Pais como uma das principais fontes de inspiração do Estado Novo e precursor de um modelo proto-corporativista de índole presidencial. A nossa proposta pretende, com o privilégio da interpretação dos nossos convidados, seguir estes indivíduos-chave, entender as circunstâncias e evolução das suas decisões e intervenções públicas, bem como o impacto dinâmico das mesmas – e sua interpretação e memorialização. Afonso Costa, socialista integral, defensor de uma visão laica, parlamentar e positivista do país e da sociedade, é tido como um dos (senão «o») pai da I República. Já Sidónio Pais, cujo golpe de Estado de 5 – 8 Dezembro de 1917 exoneraria a União Sagrada do próprio Afonso Costa da liderança do governo, procurará instaurar uma «Nova República» de forte de incidência presidencialista de modelo centrado no executivo (e não no parlamento) e de representação corporativa, parente próximo do Estado Novo.

Neste sentido, o duelo que vos propomos pretende auxiliar a compreensão sobre um importante momento da nossa contemporaneidade, seguido através de dois dos seus principais protagonistas, com ampla influência no Portugal moderno. Iremos para esse efeito debater com os nossos convidados até onde se estendem essas influências, como são vistos e reinterpretados Afonso Costa e Sidónio Pais, e as suas repúblicas. Procuraremos também dar algumas respostas e contextos sobre o que representaram as propostas políticas e os desenhos societais que ambos procuraram registar, que pontos de contacto e de antagonismo encarretavam, como entendiam as responsabilidades de educar e construir um conjunto de novos cidadãos preparados para a actividade política activa, e que lastros deixaram estes processos na nossa memória colectiva. Em suma, pretendemos confrontar, decifrar e contextualizar – com visões diferentes, e em duelo informado – o legado e a memória do período republicano à luz da nossa contemporaneidade e respectiva polarização, dotando e capacitando a nossa audiência de mais mecanismos e ferramentas da sua compreensão.

2.º Diálogo Policromado de Abril

19 Abril 18h 30 – Jaime Nogueira Pinto

26 Abril 18h 30 – Fernando Rosas

 

Sinopse

Pela energia, intensidade e polarização do momento histórico do 25 de Abril, é-nos difícil oferecer um par de personagens apenas que nelas concentrem, como na República, todo um período. Não significa isto que estejamos perante uma época com ausência de combate ou sem protagonistas, antes pelo contrário. Se algo simboliza Abril é a sua pluralidade de carácter e personagens, a flutuante definição de ‘barricadas’ e o intenso dinamismo e drama a ele associado, pelo menos até o 25 de Novembro de 1975, ou se preferirem até à aprovação da Constituição de ’76 (Abril 1976).

O encontro e encaixe de personagens é, neste sentido, flutuante e plural, um novelo longo condizente com a luta pelo protagonismo, pelo desenho institucional do novo país e pelo controlo das rédeas do tempo. Portugal, recordamos, em 74-75 foi um verdadeiro país das maravilhas, repleto de espelhos caleidoscópios e suas miríades coloridas de realidades sobrepostas. Sem nunca termos sabido ao certo o que as nossa Alices tomavam, muitos se pavonearam neste palco de carrocel de biombos embaciados, alguns verdadeiras marionetes sem pejo para esconderem os arames e armações de alcance e grossura variada, condizentes com a distância aferida do camarotes dos seus mestres estrangeirados em relação ao plateau nacional. É-nos assim difícil replicar o exercício da I República, onde a simplicidade analítica apresentada nos possibilita um confronto entre «esquerda» e «direita», e respectivas visões representadas por Afonso Costa e Sidónio País. Não se simplifica assim Abril.

Assim, se durante os primeiros momentos desse nosso dia inicial inteiro e limpo podemos identificar no duelo entre Marcello Caetano e Salgueiro Maia o confronto definidor dessa madrugada por que tantos esperavam, rapidamente este dueto convidaria varias personagens a assolarem o palco, a começar pelo cérebro operacional do golpe de Estado em curso (Otelo Saraiva de Carvalho), seguindo pelo superior hierárquico dos revoltosos, chamado ao Largo do Carmo por Caetano para que o poder não ficasse na rua, António de Spínola, não esquecendo o mar de gente que em Lisboa se associou às movimentações militares com voz e corpo próprio.

Os meses que se seguiram desmultiplicariam o conjunto de actores em cena, bem como o número de eventos significativos, lutas pelo domínio do processo de transição, e respetivos duelos. Dificulta a definição deste conflito permanente a natureza dos confrontos, pois se alguns apresentavam características de duelos pessoais, ou políticos e ideológicos, outros tinham atributos institucionais ou organizativos de alcance e interferência nacional, colonial e internacional. Ora devido à dificuldade de transpor tamanha aceleração partilhada, verificada no comportamento de indivíduos, partidos, sindicatos, governo, parlamentares, diplomatas, movimentos de libertação, movimentos populares, estudantis e obreiros, jornalistas ou militares, todos com diversas tendências internas e capacidade influenciadora, sugerimos observar o período do 25 de Abril com uma lente technicolor de grande angular, de forma a utilizarmos um ângulo de análise capacitado para absorvermos as suas cores e tons, quando nos preparamos para assinalar o seu meio século. Assim, deverão os nossos duelos se repartirem entre os acontecimentos da época e a sua interpretação contemporânea, deslocando a dualidade síncrona para uma interpretação assíncrona, comparada a 50 anos de distância, sob as interpretações dos nossos convidados. O desafio será então duelarmos com este passado vívido, à luz dos seus principais intervenientes, do arco interpretativo das suas acções, legados e sequencia de eventos, e segundo as escolhas e vivências dos nossos convidados.

 

Convidados:

Os nossos convidados duelam vai para mais de meio século, deambulando pelos eventos recentes como intervenientes de nome próprio. Uma leitura simplista poderia os apresentar como sendo um de “esquerda”, e o outro de “direita”, mas ambos representam muito mais que os seus quadrantes políticos. A vivência, o estudo, o arco de vida de cada um deles seria, só por si, motivo de dedicação exclusiva, mas coube-nos a fortuna de podermos contar com Fernando Rosas e Jaime Nogueira Pinto para nos auxiliarem a descodificar e reinterpretar a nossa contemporaneidade, dotando-nos de mais elementos de análise, de apropriação interpretativa e de uma compreensão mais completa das nossas dinâmicas sociais e políticas.

São ambos baby-boomers, um de Lisboa, outro do Porto, mas filhos da Guerra (1946). Com percursos activos na vida política e social portuguesa desde jovens, Rosas e Nogueira Pinto atravessaram as últimas décadas como actores de nome próprio integrados na decorrência dos eventos ocorridos desde os anos 60, curiosamente de forma sistemática em barricadas diferentes, a da esquerda(s) e a das direita(s). Cursaram juntos e juntos trilharam um caminho comum: na universidade, primeiro como estudantes (radicalizados), depois como professores e investigadores consagrados, mais tarde como retratistas sociais nos jornais e nos media, e sempre como gente da política e pensadores dos seus tempos. Estamos perante dois dos mais ilustres representantes e intelectuais da nossa geração do pós-guerra.

 

 

Biografia

José Reis Santos (Lisboa, 1974). O moderador-arbitro destes nossos duelos é doutorado em História Comparada Contemporânea pela Universidade Nova de Lisboa e investigador do Instituto de História Contemporânea, tendo trabalhado e publicado sobre o período do salazarismo, e como o Estado Novo se inseria comparativamente nas dinâmicas políticas e institucionais da Época dos fascismos.

Mais recentemente, tem-se aventurado pelas áreas das tecnologias disruptivas, nomeadamente as fundadoras da 4ª Revolução Industrial, mais em concreto a área da Web3 (Blockchain-NFT-Metaverse-cripto economia), onde é consultor e gestor e curador de projectos. É associado e fundador de diversas organizações na área da criptoeconomia e presença frequente nos media portugueses.

A entrada é gratuita e adstrita a pré-inscrição.

A pré-inscrição pode ser feita nesta página ou no Ponto de Informação, Piso 0 do El Corte Inglés Grandes Armazéns de Lisboa.

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