Título: Preferir o desenho da flor à flor
poesia de (e para) João Paulo Cotrim

“O mais limpo dos céus contém a promessa de nuvens. Mas a névoa não tem que significar mau tempo. Sigamos o sopro e os ventos.” (JPC)

Nesta nova temporada do Ciclo Poem(A)r regressamos até si através da poesia de vários autores, na voz de José Anjos e dos seus convidados. Durante os últimos dois anos muita coisa mudou, excepto o que nos move: a urgência da poesia e da partilha. É essa urgência que volta a abrir as portas às sessões do Ciclo Poem(A)r promovidas pelo Âmbito Cultural do El Corte Inglés, com periodicidade bimestral e programação de José Anjos, as quais não seriam possíveis sem um público de leitores atentos e cúmplices desta tradição.

A primeira sessão da nova temporada do Ciclo Poemar, Preferir o desenho da flor à flor, marca o tão antecipado regresso do mesmo às sessões presenciais, mas também a denúncia de uma ausência tão recente quanto insuperável: a de João Paulo Cotrim, editor, escritor, grande impulsionador da ilustração em Portugal, mas acima de tudo um querido amigo e eterno cúmplice do Âmbito Cultural.

A sua perda irreparável leva-nos a querer (ainda mais) partilhar os seus poemas, crónicas e outros textos, lidos e interpretados por José Anjos e vários poetas, autores e músicos amigos de João Paulo Cotrim, todos convidados especiais desta sessão. São eles: André Gago, Nuno Miguel Guedes, André Carrilho, Carlos Barretto (contrabaixo), António de Castro Caeiro, Afonso de Melo, Luís Carmelo, Rita Taborda Duarte, Carlos Querido, Henrique Bento Fialho, João Francisco Vilhena, Ana Teresa Sanganha e Simão Palmeirim Costa. Porque, nas palavras de um dos autores dilectos de João Paulo Cotrim:

“Para isso fomos feitos
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra

Assim será a nossa vida
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve
Ver a noite dormir em silêncio

Não há muito o que dizer
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez, de amor
Uma prece por quem se vai
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações se deixem
Graves e simples

Pois para isso fomos feitos
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte
De repente nunca mais esperaremos
Hoje a noite é jovem
Da morte, apenas nascemos
Imensamente” (Vinicius de Moraes)

Primeira sessão: 23 de março, às 18h30, na Sala de Âmbito Cultural Lisboa.

José Anjos nasceu em Lisboa (1978) e é formado em direito, poeta e músico. Tem quatro livros de poesia publicados e participa em vários projectos como baterista (não simão), guitarrista (Poetry Ensemble e mao-mao) e diseur (Lisbon Poetry Orchestra, No Precipício era o Verbo, Navio dos Loucos, O Gajo, Janela). Vive com um gato.

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