Conferência: “Escravatura”, por João Pedro Marques


Dia 4 de Novembro e 3 de Dezembro, às 18h30, na Sala de Âmbito Cultural de Lisboa (Piso 6)

4 Novembro – “Foram os escravos revoltosos ou os humanitaristas que aboliram a escravatura?”

No final do século XVIII e início do século XIX, num dos mais surpreendentes volte-face da história da humanidade, o mundo Ocidental começou a virar-se contra a escravatura, a rejeitá-la e a aboli-la. Surgiu, pela primeira vez, um movimento de fundo que contestou e interditou legalmente o tráfico de seres humanos e a sua escravidão. O abolicionista inglês Thomas Clarkson viu esse movimento como uma vitória da moralidade e do humanitarismo sobre o interesse material. Alexis de Tocqueville concebeu as abolições como o resultado da “ilustrada vontade dos senhores”. Na nossa época, porém, vulgarizou-se a ideia de que as abolições teriam resultado da luta dos escravos pela liberdade, ou seja, teriam sido eles os principais agentes da sua libertação e da abolição da escravidão.

A UNESCO considera que a revolta de escravos de Saint-Domingue (Haiti) terá sido o evento que levou às abolições do tráfico de escravos e da escravidão. Por isso fez de 23 de Agosto – o dia em que no distante ano de 1791, eclodiu essa revolta – o Dia Internacional da Lembrança do Tráfico de Escravos e da sua Abolição.

Na presente conferência procuraremos indagar se essa perspectiva moderna terá suporte historiográfico e lógico ou se, pelo contrário, assenta numa confusão.

 

3 Dezembro – “Sá da Bandeira e a abolição da escravidão”

Diz-se frequentemente que Portugal foi o primeiro país a abolir a escravatura, o que é apenas uma meia-verdade. Em bom rigor Portugal foi o primeiro país ocidental a tomar medidas nesse sentido, mas um dos últimos a concluir esse processo e a ilegalizar a escravidão nos seus territórios coloniais. Mais demorados do que Portugal, no Ocidente, só a Espanha e o Brasil.
A presente conferência procura esclarecer por que motivo o caminho abolicionista português, iniciado no século XVIII, pelo Marquês de Pombal, e terminado apenas em 1875-78, foi tão moroso. Esclarecerá igualmente as razões pelas quais o Marquês de Sá da Bandeira, o principal abolicionista português e a figura histórica que impeliu persistentemente Portugal para a abolição, teve de fazer várias cedências que o foram afastando do que inicialmente imaginara e desejara.

 

João Pedro Marques nasceu em Lisboa, em 1949. Foi professor do ensino secundário e, depois, durante mais de duas décadas, investigador do Instituto de Investigação Científica Tropical e Presidente do Conselho Científico desse Instituto, em 2007-08.
Doutorado em História pela Universidade Nova de Lisboa, onde leccionou durante a década de 1990, é autor de dezenas de artigos sobre escravatura e outros temas de história colonial, e de vários livros, dois dos quais publicados em Nova York e Oxford (The Sounds of Silence, 2006; e, em co-autoria, Who Abolished Slavery? A Debate with João Pedro Marques, 2010).

Para além da sua produção historiográfica escreveu, até à data, seis romances históricos, todos publicados pela Porto Editora: Os Dias da Febre (2010), Uma Fazenda em África (2012), O Estranho Caso de Sebastião Moncada (2014), Do Outro Lado do Mar (2015), Vento de Espanha (2017) e A Aluna Americana (2019).

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