Lançamento do livro “O periodismo político da pós-Vilafrancada ao Setembrismo (1824-1836): Um mundo cativante e multifacetado”, de José Augusto dos Santos Alves. - capa_versão final

Lançamento do livro “O periodismo político da pós-Vilafrancada ao Setembrismo (1824-1836): Um mundo cativante e multifacetado”, de José Augusto dos Santos Alves.

A apresentação da obra estará a cargo da Doutora Inês Cordeiro (Directora da Biblioteca Nacional de Portugal) e do Doutor João Pedro da Rosa Ferreira (Investigador do CHAM, FCSH UNL).

Dia 23 de Outubro, às 18h30, na Sala de Âmbito Cultural de Lisboa (Piso 6)

Sinopse:

À luz da concepção, segundo a qual toda a época fala, antes de mais, dela própria, pode dizer-se que os historiadores escrevem um passado à luz do seu presente. Como diz W. Benjamin, nenhuma realidade é antecipadamente um facto histórico. Ela torna-se assim, a título póstumo, graças a acontecimentos separados dela por milénios, séculos, décadas. Qualquer obra, antiga ou moderna, é matéria de reflexões, subentendidos múltiplos, reminiscências ressuscitadas, aproximações, genealogias, recorrências, reaparições, entrecruzamentos. As imagens só possuem um sentido se o historiador as considerar como espaços de energia e de cruzamento de experiências decisivas. Uma obra só adquire o seu verdadeiro sentido graças à força insurreccional que encerra; só assim é possível fugir ao laxismo ecléctico generalizado. Assim sendo, tendo presente esta concepção operatória, também posso acrescentar que cruzar periódicos é cruzar saberes, certamente um dos actos mais ricos deste tipo de investigação. Para teorizar o cruzamento de saberes labirínticos, liberais, conservadores, ultramontanos e republicanos dos periódicos desta época, é necessário estar atento ao descriptar do texto, noticioso ou editorializado, ao discurso opaco ou transparente, embalsamado de verdades, infiltradas pela mentira ou mentiras embalsamadas como verdades, à escrituralidade substantivada da imaginação criadora dos fomentadores da grande política e à prédica plena de aproximações, fanfarronadas e banalidades, em que, sob a miséria da incompetência e da intolerância, se veiculam formulários, desígnios e considerandos sem substância. As transformações acontecidas no modo de produção do periodismo, ainda que longe de superar todos os obstáculos e inércias, não impedem o periodista e o periodismo portugueses de atingir os padrões da Europa, o que desde logo tem repercussão nas questões do desenvolvimento na criação de periódicos e de interiorização das liberdades, sobretudo depois da deriva despótica miguelista. Apesar das diferenças ideológicas entre periódicos, são, contudo, partilháveis, e da mesma natureza, os modos de escriturar encontrados a esse nível na imprensa da formação social portuguesa, nesta primeira metade do século XIX. Desde logo, o cruzamento de saberes periodísticos é um facto ocorrente sempre que “submergimos” na sua investigação, interpretação ou análise dos periódicos de referência, liberais ou conservadores. Existe uma evidência na progressão da produção espiritual, intelectual e tecnológica dos periódicos, em clara aceleração na terceira e quarta décadas do século XIX, que vai produzindo crescente influência na própria configuração dos periódicos e da formação social portuguesa em todos os níveis – sociopolítico, económico e cultural –, como resultado da dialógica e da intercompreensão resultantes do cruzamento de saberes periodísticos. São distinções tão fortes que tendem a deixar na sombra a poderosa dinâmica de que estão imbricados e que só é inteligível a prazo e na articulação panorâmica dos periódicos envolvidos neste processo de encruzilhada de saberes, em muitos casos sem a consciência do que está a acontecer. Tirar do esquecimento esta excelente fonte de informação, comunicação e memória, que explica a dramática das sociedades humanas e o seu futuro – a que se chama actualmente história –, a par desse efeito de criação e de atravessamento e destruição de saberes, leva a pensar que a formação social portuguesa se começa a pensar mais a si própria e aos seus problemas, ao mesmo tempo que alarga o círculo de leitura, estimulando-o a fazer uso da capacidade de utilizar a razão e a dinamizar a opinião pública, numa época em que o homem ou a mulher modernos tinham necessidade de aprender a argumentar para convencer o seu interlocutor ou o seu público. O acto de convencer, distinto do de explicar ou do de informar, tem o poder de fazer evoluir a opinião e poder mudar as coisas, tendo sempre presente a retórica imbricada com duas preocupações indissociáveis, a da eficácia e a da ética. A retórica, ainda se mantinha, em grande parte, à distância das técnicas de manipulação, apesar da vacuidade retórica manipuladora começar a estar presente na esfera comunicacional. A eficácia podia perfeitamente caminhar a par com o respeito pelo Outro e por si mesmo, eficácia, naturalmente, potenciada pelo cruzamento de saberes periodísticos.

Autor

José Augusto dos Santos Alves é natural da cidade da Guarda. Licenciado em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, é mestre em História Cultural e Política, doutor e agregado em História e Teoria das Ideias (História das Ideias Políticas), pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. É investigador integrado do CHAM, Centro de Humanidades– Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, desde 1982. Docente universitário, na área de História dos Media e História da Cultura Portuguesa, foi o organizador, e principal responsável, do Congresso Internacional de Comunicação De Gutenberg ao Terceiro Milénio, realizado na Fundação Calouste Gulbenkian, no ano de 2000. É membro da Association International des Sociologues de Langue Française (AISLF), da Asociación de Historiadores de la Comunicación (AHC), do Foro Iberoamericano sobre Estrategias de Comunicación e do Groupement d’Intérêt Scientifique. “Participation du Public, Décision, Démocratie Participative” (GIS).. Na sua bibliografia referencia-se, entre outros estudos, A Opinião Pública em Macau: a Imprensa Macaense na Terceira e Quarta Décadas do Século XIX (2000); Comunicação e História das Ideias: A Génese do “Editorial Político” (2004); Ideologia e política na imprensa do exílio (O Portuguez – Londres, 1814-1826). 2ª Edição (2005); O Poder da Comunicação. A história do poder dos media: dos primórdios da imprensa aos dias da Internet (2005); “Un Nouveau Paradigme Communicationnel au Tournant du XIXe Siècle et L’Émergence de L’individu Social Moderne”. Identités en errance Multi-identité, territoire impermanent et être social (2007); Nas origens do periodismo moderno: Cartas a Orestes de João Bernardo da Rocha Loureiro. Organização, introdução e notas de José Augusto dos Santos Alves. Prefácio de José Esteves Pereira. Coimbra: MinervaCoimbra (2009); “Brazilian transitional periodical journalism in the dynamics of the transatlantic circulation of the press”. International Journal of Humanities and Social Science. The Special Issue on Business & Social Science (Special Issue – October 2012); Glória, Memória e Mito: o periodismo vintista (1820-1823). Porto: Media XXI, 2013; A Opinião Pública em Portugal: Da Praça Pública à Revolução (1780-1820). Prefácio de José Esteves Pereira. Porto: Media XXI, 2015; Dicionário do periodismo político português do século XIX. Vol. 1 A-C. Lisboa: Biblioteca Nacional de Portugal, 2017; A imprensa de língua portuguesa no Oriente. Lisboa: Biblioteca Nacional de Portugal, 2017.

 

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